quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre a reforma ortográfica

Estava aqui fazendo uma pesquisa pro meu projeto de PESCOM, que fala sobre os impactos da reforma ortográfica na identidade cultural dos países lusófonos. Ou seja, o que a tal reforma afetou na cultura dos países de língua portuguesa.
Eis que no meio da pesquisa encontrei uma crônica que tive de dividir com qualquer possível leitor desse blog falido, a crônica é de José Eugênio Maciel e eu encontrei no site da Tribuna do Interior. Ei-la:

"EI-LA






As palavras aí estão, uma por uma:
porém minha alma sabe mais.
De muito inverossímil se perfuma
o lábio fatigado de ais.
Falais! que estou distante e distraída
Com meu tédio sem voz.
Fala! meu mundo é feito de outra vida.
Talvez nós não sejamos nós.
Cecília Meireles – Interpretação

            Pensei que não tinha passado um ano. Perco-me em datas, na precisão cronológica delas. Um ano e três meses! Não tem jeito, vou me valer do famigerado lugar-comum: até parece que foi ontem.
            Não sei os outros, mas eu jamais tinha parado para pensar e admitir que um dia você mudasse. E agora não tenho condição de avaliar se a mudança foi também interna, pois sei que externa ela é, (visível, por sinal). Ao te conhecer você sempre fui do mesmo modo, de uma maneira concisa, objetiva a ponto tudo de parecer pequeno, pequeno não, muito pequeno, sem chegar a ser minúsculo. Uma pequenez somente na aparência, traiçoeira no bom sentido, mas, ao se fazer acontecer, surgia algo majestoso, espetacularmente gigante e complexo, ainda que outrora parecesse frágil e sem proteção, de uma simplicidade que não proporcionaria em si qualquer sustentação e consistência.
            Olho, sinto e ajo como se fosse o antes, esquecendo-me da modificação. Alguém te consultou? Fui tua sugestão?
            Faço uma tosca comparação, independentemente de situações existem os que permanecem inalterados no agir, no caráter e na personalidade, não importa como estejam vestidos. Portanto, creio que, apesar da sua nova apresentação, continua com igual sentido, significado.
            Não me recusei em aceitar a mudança. Se reagisse contrariamente não teria qualquer sentido prático. Assim sendo, tenho me acostumado, (agora eu digo, como se tudo fosse mesmo fácil, você compreende) e mais um pouco não tocarei no assunto. Sempre vou querer ser teu amigo. A amizade é cumplicidade, se você estiver bem eu também estarei.
            Gosto do teu apelido, entre muitos modos que te chamam, mas luz é como te chamo, quando não pelo nome, esta sim a minha preferência.
            Tem épocas que você está todo o tempo comigo. Quando estou lendo um livro, assistindo televisão, ouvindo música ou o noticiário, ao tomar café, no banho, caminhando pelas ruas, quando falo ou me silencio... Nossa, a tua companhia quando o dia amanhece é sempre muito especial. E quantas noites sem sono ou tendo dormido pouco, ora por você estar presente ou por não ter vindo, ou ainda por ter ido embora escapulindo contra a minha vontade ou desaparecendo sem que eu percebesse. Não posso me esquecer o quanto embala meus sonhos.
            Sem ter uma preferência repito, amo você quando tenho que cotidianamente te conquistar, te cubro com todas as vestes, embora na imaginação já a vejo inteiramente nua; ou quando desnuda te abraço, uso e te protejo, até te escondo, te visto com a delicadeza antagônica da volúpia que te deixara nua, bela, irresistível.
            Quer saber, não estou me importando mais se te tiraram o acento, se você não queria ou gostou. Continuas para mim imprescindível. Que sejas minha, não importa que também seja para a Humanidade, ela não pode viver sem você, querida ideia.
          Viu?! Escrevi conforme a reforma ortográfica: I-D-E-I-A. A mesma reforma que lhe tirou o acento mas não retirou o teu brilho, a tua luminosidade singular, envolvente, poderosa, simples ou profunda. Quero tê-la mais comigo nesse 2010, perceber-te melhor e, se não estiver comigo, não demore a dar sinais, a se insinuar e eu tudo farei para ir ao seu encontro."