sexta-feira, 28 de maio de 2010

Sobre o respeito

  Já postei anteriormente a respeito de preconceito, né? Pois bem, tenho de retornar a esse tema e inserir a questão do respeito. Eu lembro que finalizei o texto dizendo que ninguém precisa concordar com ninguém, mas que ao menos haja respeito. Por que é tão difícil assim?
  O que me motivou a escrever foi um ato que ocorreu lá na UnB hoje. Beijaço contra a homofobia. Achei muito importante estar lá, ser parte de uma luta a favor do respeito. Confesso que estava um pouco com o pé atrás, uma vez que a manifestação contra a homofobia começou com pixações por toda a universidade com mensagens anti-homofóbicas. As mensagens estavam ok, mas, como se não bastassem as paredes estarem pixadas, muitos dos cartazes de divulgação de festas estavam depredados também. Poxa, não achei legal, esses cartazes custam caro pra fazer e representam todo um esforço por parte dos respectivos cursos e, mesmo que não custassem, mesmo que não tivessem pixado os cartazes, a UnB é patrimônio de todos, pixar é uma forma de depredação, como se escreve mensagens contra a opressão ao mesmo tempo em que se depreda um espaço que é de todos? Mas ok, mesmo incomodada, relevei as pixações e fui participar do protesto.
  Sei que a situação de preconceito no Brasil é crítica, sei que, infelizmente, esse é o país que mais violenta e mata homossexuais por conta da homofobia. Sei que alguns cursos na UnB têm uma "cultura homofóbica" que deve ser extinta, mas sei também que nem todos os alunos desses cursos compactuam com isso, é uma generalização burra, se me perdoarem o termo. Conheço vários casos reais de heterossexuais que têm preconceito pois acham que só porque uma pessoa é gay ela vai necessariamente dar em cima de alguém do mesmo sexo, muitos homens que não curtem balada gay porque acham que vão ser "atacados". Eu posso dizer que vou bem mais a baladas gays, uma vez que a música e o ambiente me agradam muito mais que os das baladas héteros. Não consigo me lembrar quantas vezes uma menina deu em cima de mim em balada gay, porque foram muito poucas ou nulas, por outro lado, na balada hétero, é um tal de homem me puxando pelo cabelo e forçando situações desconfortáveis, chega a ser neandertal, sério! Meus amigos heterossexuais que frequentam esse tipo de "festa gay" podem até dizer que se sentem desconfortáveis com as cantadas, elas ocorrem sim, é normal, mas eles também hão de relatar pouquíssimas vezes em que o cara foi insistente ao ponto do inconveniente, quando se é homossexual, de modo geral, aprende-se na marra a respeitar as escolhas de cada um. Lógico que eu estou generalizando, ser homossexual não deve fazer de ninguém vítima, ser heterossexual também não deve fazer de ninguém vilão. Essa coisa de bem e mal é tão simplória diante da complexidade que é o cérebro humano. É uma questão de escolha, intenção e caráter. Nem todo gay vai ser bonzinho e reprimido pela sociedade, nem todo hétero vai ser filha da puta e preconceituoso, pensar assim seria o mesmo que rotular dois grupos gigantescos, ignorando completamente as individualidades de cada um.
 Quanto à homofobia, aí sim eu abro a boca. Entendo e respeito quem não concorda com a homossexualidade. Entra em debate questão de religião e crença, discussão do que é certo, do que é "normal", do que é moral, pontos de vistas. De minha parte, acho uma coisa completamente normal. "Amar é normal". Não tem espaço pra "mas". Amar é normal e pronto! Você pode ser mulher, passar a vida inteira atraída por outras mulheres e um belo dia se perceber amando um homem. Você pode ser homem, pegar todas as menininhas da cidade (tal João de Santo Cristo) e, sem explicação, de repente se sentir tremendamente atraído por outro homem. Você pode nascer se atraindo única e exclusivamente por pessoas do sexo oposto e morrer assim. Você pode beijar quem você quiser, desde que não desrespeite os outros, você pode amar quem quiser e se quiser. É por essas e outras que eu acho o homossexualismo (e qualquer outra forma de ser) uma coisa normal. Discorde quem quiser, é de direito, fique à vontade para discordar, você tem seu espaço. Agora, não concordar é uma coisa, desrespeitar é outra. E isso não é só com a questão gay não. Você pode discordar abertamente da igreja católica, mas isso não te dá o direito de sair agredindo os fiéis. Da mesma maneira, você pode não concordar com o homossexualismo, mas de maneira alguma isso te permite xingar, agredir, perseguir. Homofobia não é questão de concordar ou não concordar, é questão de falta de respeito.
  O protesto estava bacana até que chegamos na FT, que é a faculdade campeã em trotes homofóbicos dentro da UnB. Levamos nosso protesto, nossos gritos de guerra, até o CA de Engenharia Civil, devido aos acontecimentos do último dia 20. A reação dos alunos foi de bater com a porta na nossa cara. Muitos dos que estavam protestando chutaram e forçaram a porta do CA para se fazer ouvir. Achei violento, não gostei. Uma das meninas que estava no protesto se interpôs e esclareceu que aquilo era uma agressão que não deveria ser feita, aplaudi por dentro. Perdemos a razão quando agredimos o agressor, violência gera violência, podemos ter fomentado um ódio homofóbico naquelas pessoas só por conta dessa pequena atitude. Certo, pra mim não foi pequena, senti um incômodo que se somou àquele das pixações nos cartazes, mas a postura daquela menina sensata me inspirou a continuar ali protestando.
  Voltamos ao Ceubinho e, no meio do caminho, ouço alguém dizer para passarmos no CA de Agronomia, porque uma menina foi agredida lá por estar beijando outra garota. Não consegui entender ainda como as coisas chegaram a esse pé, mas tenho certeza de que os estudantes de agronomia se sentiram atacados em alguma medida e, ao meu ver, esse não era nosso objetivo. Levamos nossa bandeira até lá, mas não estou certa de que eles entenderam o que motivou a manifestação a chegar naquele CA, se eu não soubesse antes, também não teria sido esclarecida naquele momento. Houve gritos de guerra, pessoas proferindo dados alarmantes sobre a homofobia, mas nada que dissesse: viemos ao caagro por causa disso! Pode até ter sido dito, mas eu não ouvi e sei que, como eu, muitos outros não ouviram. Antes do Beijaço acontecer ali, colaram-se adesivos do movimento anti-homofóbico na placa do Centro Acadêmico, depois tentou-se pendurar a bandeira gay no mesmo local. Eu, particularmente, não achei nada demais, mas os alunos da Agronomia não gostaram e pediram para que aquilo não fosse feito. Não estou querendo ser partidária, mas não me lembro de ter visto os agrônomos sendo hostis ao pedir que não fizessem aquilo à placa. Os manifestantes fizeram mesmo assim. O Beijaço nem chegou a acontecer naquele espaço, os estudantes retiraram a placa deles do lugar e uma aluna da agronomia pegou o megafone para fazer uma observação. Bati palmas quando ela terminou de falar, o que ela disse, basicamente, foi que fomos lá, fizemos nosso ato e eles ouviram, mas que era muito incoerente pedirmos respeito se os estávamos desrespeitando. Infelizmente, depois disso, houve o maior bafafá! Discussão pra todo canto, ninguém se entendia, não houve diálogo e eu tenho certeza de que o movimento conseguiu o efeito oposto do que intentava, só conseguiu incutir uma raiva aos anti-homofóbicos. Quando a manifestação se dirigiu à reitoria, virei minhas costas e tomei o rumo da sala de aula, já não concordava mais com tudo aquilo. Perdeu a razão de ser pra mim. Ainda apóio o princípio anti-homofóbico, mas o rumo extremista que esse ato tomou me impede de compactuar com ele.


  Ainda sobre a homofobia, gostaria de dividir um trecho interessante que assisti hoje em Glee. É do último capítulo exibido (1x20) então, pra quem não curte spoiler, pode terminar a leitura por aqui.
  A cena se trata de uma discussão entre Finn e Kurt, uma vez que a mãe de Finn passa a morar com Burt, o pai de Kurt, e Finn não está nada satisfeito com isso. Kurt, que é homossexual, fica bastante alegre, já que é apaixonado por Finn e agora tem a oportunidade de morar com ele, e, para agradar o rapaz, redecora o quarto que os dois irão dividir de uma maneira bem espalhafatosa. Eis o diálogo:

"Finn: Por que é tão difícil para você entender? Não quero me vestir na sua frente. Sabe que visto minha cueca no chuveiro antes de sair quando você está aqui? Não quero ter de me preocupar com esse tipo de coisa no meu próprio quarto!
Kurt: De que tipo de coisa você está falando?
Finn: Você sabe! Sabe do que estou falando, não se faça de burro! Por que não aceita que não sou igual a você?
Kurt: Eu aceitei isso!
Finn: Não aceitou, não. Acha que eu não percebo o jeito que você olha pra mim? Como fica me paquerando? Você acha que eu não sei porque gostou quando soube que iríamos morar juntos?
Kurt: É só um quarto, Finn! Você pode redecorá-lo, se quiser!
Finn: Certo, que bom! Então a primeira coisa que vai embora é aquela luminária bicha! E depois dessa manta bicha!
Burt: Ei! De que você acabou de chamá-lo?
Finn: Não, não chamei ele de nada, estava me referindo à manta!
Burt: Se você usa essa palavra, você está falando dele!
Kurt: Fique calmo, não entendi desse jeito!
Burt: Isso é porque você só tem 16 anos e ainda só vê o lado bom das pessoas. Em alguns anos, você passa a ver o ódio no coração das pessoas. Mesmo no coração das melhores pessoas. Usa a palavra "preto"?
Finn: Claro que não!
Burt: E "retardado?" Aquela cheerleader que estava na lanchonete com o Kurt, você a chama de retardada?
Finn: A Becky? Não! Ela é minha amiga, tem síndrome de down.Eu nunca a chamaria assim, isso seria cruel!
Burt: Mas você acha que está tudo bem vir à minha casa e dizer "bicha"?
Finn: Não foi isso que eu quis dizer...
Burt: Eu sei o que você quis dizer! Acha que eu não usei essa palara quando tinha a sua idade? Se alguém se cansava no treino, falávamos para deixar de ser bicha, que parasse com aquilo. Queríamos dizer exatamente o que você quis dizer! Que ser gay é errado, que é uma infração que merece ser punida. Eu realmente achei que você fosse diferente, Finn. Pensei que, por estar no Glee Club e por ter sido criado por sua mãe, você era de uma nova geração de homens, que via as coisas de um modo diferente, que já soubesse de algo que eu levei anos de esforço para entender. Acho que eu estava errado. Desculpe, Finn, mas você não pode ficar aqui. Eu amo a sua mãe e talvez isso até me faça perdê-la, mas minha família vem em primeiro lugar.Não posso ter esse tipo de veneno por aqui. Esse é nosso lar, Kurt! Ele é meu filho! No mundo lá fora, faça o que quiser, mas não debaixo do meu teto!"

  Fico por aqui. Espero não ter ofendido ninguém e peço desculpas se generalizei. Cada um sabe o que fez e o que deixou de fazer, portanto, que fique claro que minha intenção não é acusar ninguém. Houve erros dos dois lados, em uma briga, nenhuma das partes está certa. Só quero aclarar que devemos respeitar TODOS os pontos de vista, inclusive aqueles que consideramos errado.