Eu e minha incerteza a respeito de quem sou. Não penso! Que se penso, de confusa evaporo. Eu choro! Choro e escorro pela minha própria face. É esse não saber que me afeta e me resseca e me faz querer chover. Como pode um ser não saber quem é? Será que alguém sabe?
É que eu queria ser transparente. Não refletir feito espelho d'água o que os outros sentem. Nem escapar por entre os dedos de quem tenta me conter. Bobagem! Que se eu fico de fato transparente, como é que eu vou reconhecer meu rosto? Minha personalidade corrente como um rio bravo. Meu humor - maré inconstante - que responde à luz da lua. Eu, paradoxo cristalino, feito um laguinho de jardim, por vezes absorvo uma constância fora de mim, a calma concedida por um dia ensolarado. Os mesmos raios de sol que, às vezes, me arrancam a máscara molhada e tornam vapor minha superfície.
Aí, então, só me resta o fundo. Voltar-me para dentro de mim. A velha conhecida cachoeira que cai do meu peito e inunda tudo o que não sei que sou. É um mar de sentimentos em que eu insisto em naufragar. Eu não tenho medo de transbordar no meu sentir. Túrgida de mim. Um dia arrebento a represa e me afogo sem temor. Porque o ciclo continua.