Cá estou fazendo curso de verão na UnB. Técnicas em Jornalismo e Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação (carinhosamente chamada de PESCOM). Hoje, a professora de Técnicas estava falando sobre apuração: a gente jamais deve deixar nosso preconceito intervir na matéria, devemos nos livrar o máximo possível dos preconceitos. Ninguém quer ser um Boris Casoy da vida, não é mesmo? Ok, depois o professor de PESCOM me passa um vídeo sobre o Milton Santos. Nosso amiguinho Milton era um importante geógrafo que estudou à fundo o processo de globalização e, por isso, ganhou uma pá de prêmios. Ele fala de uma globalização perversa, que prioriza o dinheiro em seu estado puro, de um poder concentrado na mão de poucos atores que muito se interessam em aumentar cada vez mais essa margem de lucro (chamada por ele de 'mais-valia universal) enquanto que a sociedade é deixada de lado. Apropria-se das técnicas para elevar os lucros, mas o social é esquecido. Produz-se, hoje, comida suficiente para alimentar o mundo inteiro e ainda sobrar, mesmo assim, não conseguimos acabar com o monstro da fome. Não conseguimos? Não queremos? Quem é que vai PAGAR para alimentar a África? E eu pergunto: por que alguém teria de pagar por um direito legítimo? Ou vai me dizer que o direito à sobrevivência é ilegitmo?
Pois bem... Isso foi o que disse Milton Santos, o geógrafo. Milton Santos: brasileiro, negro, descendente de escravos.
Isso me fez refletir sobre mim mesma. No filme, mostra-se imagens do Fórum Social Mundial, tantas pessoas lutando contra o preconceito. PRECONCEITO. Acho que essa é a palavra. Quem sou eu no meio dessa bananosa toda? Sarah de Souza Ferreira Carneiro. Para a família da minha mãe, sou a "neguinha". Para a família do meu pai, sou a "transparente". Nasci do ventre branco branco da minha mãe, tão branco que ela não aguentava um instante debaixo do sol, porque logo ficava toda vermelha. Então fui para os braços negros do meu pai, oriundos de uma história amarga de pobreza que, com muito esforço, hoje é parte da lembrança. Eu meio a meio. Grande coisa. Qual brasileiro não é hoje um mosaico de raças? E existe alguma outra de homens que não a raça humana?
Daí eu cresci. Sempre apaixonada. Engraçado esse blog ser o primeiro lugar público que eu vá falar sobre isso. Engraçado não, eu tive medo de confessar antes. Preconceito. Vítima e algoz. Pois sim, sempre apaixonada. Calhou de um dia eu me apaixonar por uma garota. A princípio achei meio estranho, depois fui percebendo que era tudo natural. Namoramos. O amor foi se transformando em outra coisa e terminamos, como qualquer outro relacionamento normal. Normal? Normal é amar. A gente se apaixona por pessoas ou por gêneros?
Daí então comecei a estudar ocultismo e esoterismo. Isso foi agora em 2009, só uma confirmação das crenças que já ia buscando há algum tempo em minha vida. Antes passei brevemente pelo espiritismo, pela religião do meu pai e pelo catolicismo. Meu pai é Testemunha de Jeová, ai dele ter uma bruxa na família. Preconceito dele? Preconceito meu? Que importa se você é bruxo, testemunha de jeová, católico, budista, evangélico, do candomblé, protestante, do santo daime, espírita, feiticeiro, judeu, xamã, ateu ou agnóstico? A sua descrença na minha crença vai diminui-la? Não deveria.
Eu. Que diabos eu sou? Nem preta nem branca, talvez um milkshake de ovomaltine, eu não sei. Me considero heterossexual, mas não acho que minha ex-namorada foi um desvio no meu caminho, eu REALMENTE a amei, defina minha sexualidade agora, vai! Minhas crenças são um apanhado de tudo que eu aprendi na igreja e fora dela, teria de inventar uma nova religião para me encaixar.
Então pra que me definir? Pra que a gente tem de definir o tempo todo o outro? Por que a gente quer que todo mundo seja igual, mas inferior a nós? Digo isso, porque eu também tenho preconceito com uma série de coisas, e me revolto. A gente não deve ser assim, ora bolas! Proponho que respeitemos. Ninguém precisa concordar comigo, eu não preciso concordar com ninguém, mas seria muito legal se respeitássemos nossas maneiras e opiniões mutuamente.
Utopia é comigo mesmo!